terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Dias... porque os há!

Dizem?
Não digam.
Não dizem?
Dissessem.
(F. Pessoa)


Ele há dias em que chove
outros em que faz vento.
Como noutros alguém morre,
ou aqueles se dão em casamento.

E há destes, em que todos falam
e muitos outros se calam
porque ai se eles dissessem
e ai dos que não calassem:

romperiam o silêncio de um tempo
em que respiro cada momento:
encho-me, cá dentro, desse ar
que um dia me há-de calar.

Bracara Augusta, 30/10/2008.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

N

Nada
nunca
ninguém
nesta vida;
naquela outra
não.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Num dia de chuva

Quem és tu homem da rua
que no meio da chuva me acenas
e interrogas os meus sentimentos
enquanto a chuva te lava o rosto?

Serás tu o Cristo ou o anti-cristo,
o Louco da Cruz ou o pérfido maligno,
o que me persegue ou o que brota de mim
que apenas, eu como tu, existo?

Deixa-me ficar contigo nessa chuva
em que tu, desconhecido, te encontras
comigo e, deste encontro, abre o sol
que nesta existência aclara à luz

e então nem eu sou Cristo
nem tu o tal anti-cristo
Sou eu, és tu, nós loucos e pérfidos
ora por amor, ora por maldade,
a abraçar o mundo que nos cerca.

domingo, 13 de julho de 2008

Porquê [2], ou nunca calar

Porque não falas comigo,
o meu olhar é de dor,
a minha canção de amor,
e o meu silêncio magoado...

Fico mudo, calado.
Antes ria e cantando dançava,
agora fico sossegado,
perguntaram-me já até se não sonhava...

Sonho, sonho... a dormir,
quem sabe se até mesmo acordado.
Nem sempre a sorrir,
também nem sempre magoado...

Sonhe como sonhar, viva como viver,
o meu olhar sempre há-de ser
um reverso do que ousar,
ou antes, do que nunca calar...

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Lua

A luz da lua iluminou o meu caminho,
quando de noite regressava, sozinho,
e despertou-me de um sonho,
em que eu acordara risonho:

Naquela torre, quase junto às estrelas,
olhei a selénica guarda, na penumbra
de uma noite, das mais belas,
onde o sol brilhava de escuridão...

Mas eu não estava sozinho,
iluminava a noite aquela luz
cadente sobre nós, como qualquer estrela,
a fazer do meu olhar um reverso.

terça-feira, 15 de abril de 2008

Hoje em mim

segunda-feira, 14 de abril de 2008

outro olhar... e a mesma vontade de sonhar

Vale a pena esperar
quem sabe porquê...
um simples olhar,
de um respirar que vê

como se fosse acolher
todos os sonhos do mundo
e os fizesse reviver
até mesmo ao mais profundo.

Cá dentro é isto:
a certeza de respirar
- mera prova de que existo -
e a vontade de sonhar.
(22-11-07)

terça-feira, 1 de abril de 2008

B

Deixei de olhar, mas não de sonhar
deixei de te procurar, não de te amar.
Continuo a escrever assim cada verso
contigo no meu reverso.

Olho-te de novo, bem dentro de mim,
como torrente sem fim, num rio a correr,
em que a água não serve para levar
e o desassossego vem de novo trazer.

Podiamos nadar, talvez navegar,
ou é melhor que naufragues, e eu,
que nem sequer sei nadar,
fique na margem, perto do teu céu.

sexta-feira, 7 de março de 2008

A



Guardei comigo a tua mão,
a mesma que um dia me abraça,
e no outro me diz que não,
aquela mesma - à qual eu acho graça.

Podia falar de amor, cantar...
- quem sabe se o consigo escrever -
mas não... fico só a sonhar
com o momento em que te hei-de ver.

Aí também tu me verás,
amada minha, negra flor,
e de contemplar haverás,
o suave perfume do nosso amor.



quarta-feira, 5 de março de 2008

Porquê

Porque as horas são longas...
Porque os olhares são muitos,
os pensamentos infindos,
e as horas tantas vezes mortas...

E nessa vida oculta,
de suspiros renegados,
de sentimentos calados,
e outros assim terminados

escrevo, em linhas desiguais,
quantos suspiros e ais
servem para marcar este ritmo, de olhares
em verso, ocultanto o meu reverso.