Eu cá acho que Deus devia sair do céu,
Do seu reino, onde quer que isso seja,
E vir olhar os homens, retirando por sobre eles o véu
Que não é mais do que uma cortina de inveja
Sim, porque aqui sozinhos vamos morrendo
Ao mesmo tempo suspirando, olhando, sonhando,
Uns, porque os outros, os tais, eles vão sabendo
Que de lá ninguém voltou, e lá estão cantando
Eu nem canto, nem sonho, nem sei se vivo.
Deambulo por ruas de uma vida que é minha
Ou por avenidas, montes e lugares.
Mas viver, para mim, é só este olhar cativo,
De uma alma que se sente sozinha
E que escreve, sem ver, o que são os olhares.