quinta-feira, 2 de junho de 2011

O que são os olhares ou descrição de uma vida


Eu cá acho que Deus devia sair do céu,
Do seu reino, onde quer que isso seja,
E vir olhar os homens, retirando por sobre eles o véu
Que não é mais do que uma cortina de inveja

Sim, porque aqui sozinhos vamos morrendo
Ao mesmo tempo suspirando, olhando, sonhando,
Uns, porque os outros, os tais, eles vão sabendo
Que de lá ninguém voltou, e lá estão cantando

Eu nem canto, nem sonho, nem sei se vivo.
Deambulo por ruas de uma vida que é minha
Ou por avenidas, montes e lugares.

Mas viver, para mim, é só este olhar cativo,
De uma alma que se sente sozinha
E que escreve, sem ver,  o que são os olhares.

sábado, 20 de março de 2010

Palavras

As palavras que escrevo agora
Não as escrevo por mim.
E não são apenas para mim.


Entram num ciclo sem fim
De ideias, sonhos e pesadelos
De todos os que as disseram na aurora

De um dia, no qual, ao entardecer,

Eu as ouvi, para depois as alinhar
Fazendo que fui eu que as inventei
Como agora aqui as deixarei

Para que hoje tu as possas ler

E por elas de novo sonhar,
Aquilo que eu quis inventar,
Mas, mesmo assim, sem as ver.


Braga, 7 de Maio de 2009.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

As palavras que te digo

Como se pode falar
sem nunca calar
aquela vontade do coração
que, dizem, vai contra a razão?

Não sei. Ajudem-me. Falem-me.
Se também não sabem, calem-se!
Já disse: não consigo falar
e ao mesmo tempo calar.

Mas então não me venham com tretas
querendo fazer das coisas brancas, pretas
ou então meias cinzentas
- as coisas que tu inventas!!!

Ou são quentes ou sao frias,
ou são escuras ou são claras,
de que te falo as palavras,
e sim, têm luz e temperatura

tal qual a ternura...
ou vais dizer-me que nunca te gelaram
ou - milagre - te iluminaram
as palavras que te digo, mas tu calas.

11-XI-MMVIII

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Dias... porque os há!

Dizem?
Não digam.
Não dizem?
Dissessem.
(F. Pessoa)


Ele há dias em que chove
outros em que faz vento.
Como noutros alguém morre,
ou aqueles se dão em casamento.

E há destes, em que todos falam
e muitos outros se calam
porque ai se eles dissessem
e ai dos que não calassem:

romperiam o silêncio de um tempo
em que respiro cada momento:
encho-me, cá dentro, desse ar
que um dia me há-de calar.

Bracara Augusta, 30/10/2008.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

N

Nada
nunca
ninguém
nesta vida;
naquela outra
não.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Num dia de chuva

Quem és tu homem da rua
que no meio da chuva me acenas
e interrogas os meus sentimentos
enquanto a chuva te lava o rosto?

Serás tu o Cristo ou o anti-cristo,
o Louco da Cruz ou o pérfido maligno,
o que me persegue ou o que brota de mim
que apenas, eu como tu, existo?

Deixa-me ficar contigo nessa chuva
em que tu, desconhecido, te encontras
comigo e, deste encontro, abre o sol
que nesta existência aclara à luz

e então nem eu sou Cristo
nem tu o tal anti-cristo
Sou eu, és tu, nós loucos e pérfidos
ora por amor, ora por maldade,
a abraçar o mundo que nos cerca.

domingo, 13 de julho de 2008

Porquê [2], ou nunca calar

Porque não falas comigo,
o meu olhar é de dor,
a minha canção de amor,
e o meu silêncio magoado...

Fico mudo, calado.
Antes ria e cantando dançava,
agora fico sossegado,
perguntaram-me já até se não sonhava...

Sonho, sonho... a dormir,
quem sabe se até mesmo acordado.
Nem sempre a sorrir,
também nem sempre magoado...

Sonhe como sonhar, viva como viver,
o meu olhar sempre há-de ser
um reverso do que ousar,
ou antes, do que nunca calar...